O mundo sempre espera alguma coisa de nós.
O que é esse mundo exatamente não é algo fácil de precisar, pois ele está em cada canto, na nossa família, nos amigos, nos professores, em nossos amores. Para cada um de nós ele aparece de um jeito; mas mesmo assim, alguns padrões estão aí.
Em certo sentido, não é fácil falar dos padrões, pois pode parecer uma negação da escolha individual. Negá-la é o oposto do que pretendemos fazer aqui: é justamente fugindo do padrão que as grandes personagens aparecem na história. Mas fugir do padrão não significa negar a sua existência, nem mesmo ignorá-lo.
De que forma somos socializadas? O que o mundo espera das mulheres?
A forma como todos e todas somos educados pode ser um belo indicador daquilo que o mundo espera de nós. Quando uso o termo educação, me refiro a seu sentido amplo, não apenas à educação na escola. Trata-se dos valores que a sociedade é capaz de transmitir por meio de suas instituições. Por isso, o termo mais adequado seria, talvez, socialização.
Efetivamente, a socialização nos prepara para a vida coletiva. Ela nos prepara como indivíduos, para que possamos nos relacionar de forma saudável com os outros, na cultura na qual construiremos nossa história. As descobertas que vamos fazendo durante a vida estão circunscritas pelas possibilidades que nos são dadas pelo que nos cerca, por tudo aquilo que nossa cultura nos permite vivenciar.
Desde a infância, temos a possibilidade de descobrir o mundo. E o que descobrimos?
Não tenho filhos, mas de vez em quando compro presentes para crianças. Sempre que entro em uma loja de brinquedos, daquelas mesmo que obedecem o padrão, fico meio deprimida. Existe um tipo de brinquedo que é “de menino” e outro que é “de menina”. Isso ainda existe.
Mas fico mais deprimida ainda com alguns dos brinquedos que eu já vi. Uma vez eu vi um kit de faxina (rodo, vassoura e pá), claro, com uma menininha limpando a casa, ao lado da mamãe na capa. Confesso que me senti ofendida. Ainda pensei, será que um homem não se ofenderia se ganhasse um presente desses ou se eu resolvesse comprá-lo para seu filho?
Existe uma bonequinha que usa fraldas e faz cocô. Caso você queira dar esse presente, deve comprar junto o pacote de fraldas, já que elas ficam sujas. A mesma pergunta me vem à mente: como se sentiria um menino ao receber uma boneca para ensiná-lo a limpar fraldas?
O ilimitado espaço, ao contrário, fica sempre na sessão dos meninos: naves, estrelas e planetas… Laboratórios prontos para fazer deles seres curiosos preparados para compreender o mundo. Claro que isso não significa que as meninas não possam enfrentar tudo isso e provar o quanto esses padrões subestimam aquilo que elas podem ser. Algumas o fazem e estão aí para provar que podemos.
Mas outras não. E não seria melhor se não precisássemos romper com o padrão para nos tornar curiosas, preparadas para compreender e viver o mundo?
O mundo está aí para todos e para todas. O padrão deveria ser compartilhá-lo.
Olá Violeta! Gostei muito da sua reflexão sobre os padrões. Acho que os padrões começaram a existir porque as pessoas tem medo do desconhecido e dos espaços, quando, na verdade, elas deveriam ter curiosidade, exatamente como você disse. Parabéns pela estréia no Plano Feminino!
Parabéns Violeta! Precisa e contundente, como sempre. Seguimos padrões para tudo e, numa análise mais detida, podemos chegar à conclusão de que eles (os padrões) mais causam inquietude do que conforto para todos, mulheres e homens. Valeu!