A Stephanie Ribeiro é uma pessoa bastante conhecida no universo feminino. É uma influenciadora que ficou conhecida nas redes sociais por não se calar diante das injustiças com mulheres, com negros, com classe social e luta para que tenhamos uma sociedade mais justa.
Nascida em Araraquara, no interior de São Paulo, Sté, como muitos a chamam, é filha de mãe solteira e diz que desde muito cedo viu mulheres que lutavam no dia a dia para serem protagonistas de suas próprias vidas, mesmo que a ideia fosse apenas de que elas tinham de ser fortes diante do abandono, descaso e marginalização. Stephanie diz ainda que sua mãe pegava no pé para que estudasse, e ela entendeu desde pequena que só assim conseguiria quebrar esse ciclo.
“O momento de quebra para mim foi no qual claramente passei a me entender como feminista negra. Isso aconteceu na universidade pois, mesmo que sempre tenha me visto negra, nunca tinha me sentido isolada por isso. Acho que estar em um espaço de maioria branca, sendo mulher e negra, foi o que fez a minha ficha cair de que tudo que tinha passado até ali não era isolado, não era bullying e não era bobagem, eram manifestações racistas. Foi a partir de 2012, que comecei então a me posicionar como feminista negra e atuar por meio das redes sociais, acho que foi um começo orgânico já que no ambiente físico que estava, usar as redes era a única forma de me aproximar com quem pensava parecido comigo.”
Stephanie é formada em arquitetura e também escreve para algumas mídias como o Plano Feminino, onde ela escreve 2 vezes por mês e também para a Marie Claire. De uma forma geral, ela diz que tanto na arquitetura quanto na literatura e mercado editorial, percebe que mulheres são sub-representadas e ocupando espaços de invisibilidade
“Vejo mulheres que são negligenciadas mesmo pela sua contribuição, sofrendo todas as consequências do machismo e do racismo, pois nós, mulheres negras, somos duplamente oprimidas. Então, eu entendo que nós ainda não estamos inseridas, estamos comendo pelas bordas e disputando narrativas, mas inseridas só seremos quando essa estrutura for reformulada.”
Falar com Stephanie sobre preconceito, é chover no molhado, afinal, ela diz que é algo que enfrenta sempre, infelizmente: “Acho que para mim ficou muito claro, depois que passei a conviver com meu namorado, como até no ato de ser corrigida e questionada tem a ver com o fato de ser mulher. Veja, há correção pública e constante de qualquer coisa que eu diga mesmo no mais simples post do facebook. Então, eu acho que esse é o exemplo mais leve, já passei uma série de condutas assediadoras ao longo da minha trajetória, inclusive e especialmente na própria universidade.”
Sobre racismo, eu ainda tento lidar com algumas coisas que tive que ler ao longo da minha trajetória, já me chamaram de preta, macaca, preta que deveria voltar para África, suja, etc. Isso é o dito, mas ainda acho que o não dito que é aquele da estrutura, institucionalizado, esse é o racismo que entendo que me surte os efeitos mais violentos, pois quando eu noto e aponto isso, eu ainda sou chamada de louca e desmerecida.
“Quando penso que já me chamaram de tantas coisas, e que muitos até dizem: ‘nossa, chocante!’ Eu penso que por trás do ‘nossa, chocante’, têm muitas pessoas que não deixam de segurar a bolsa mais forte quando veem um negro na mesma calçada. Então, eu realmente não sei, pois mesmo eu denunciando, expondo, ainda tem a manutenção de uma estrutura de séculos.”
Nos casos de ameaça que por vezes Stephanie recebe pelas mídias sociais por se posicionar diante de assuntos que são polêmicos, ela diz que faz uso da lei pra combater esse tipo de ação. “Já cheguei a fazer B.O. e sempre converso e mantenho uma rede de feministas advogadas próximas. Tudo que eu percebo estar passando de um limite, eu entendo como violência e quero tratar como tal. Também entendo que existe necessidade de procurarmos auxílio psicológico, não precisamos e não podemos passar por todas essas violências de forma naturalizada, por isso, é importante entender que ser forte é procurar ajuda para lidar com tudo isso. Enfim, eu lido como acho que todas as pessoas devem lidar, aquelas que expõem ou não, suas opiniões. Acho importante que todo mundo que é negro e mulher entenda que a gente não deve lidar com tudo sozinho.”
Ainda sobre preconceito racial e aproveitando também pra colocar a questão do machismo em pauta, no nosso papo Stephanie diz que para mudar essa realidade, é necessário que todos ajam para romper com as estruturas recentes, da forma que pudermos, mesmo que ainda não tenhamos poder estrutural de fato, mas temos que fazer ecoar nossas vozes e mostrar que não vamos aceitar nada que nos ofenda.
“Temos que ter como ética não naturalizar as desigualdades que estão postas como norma. Não é só sobre apontar o racismo e machismo dos outros, mas é refletir sobre sua própria conduta e sobre como agir nos seus espaços.”
Com uma grande bagagem literária sobre feminismo, Stephanie diz que tem uma série de livros escritos por mulheres feministas que ela admira como Audre Lorde, Angela Davis, bell hooks, Lélia Gonzales e Sueli Carneiro. Sua preferência é por autoras negras para usá-las como referência mas que é importante também ler de tudo, de diversos autores diferentes para que a gente amplie nosso conhecimento. E, para quem quer mergulhar nas leituras relacionadas ao universo feminino, questões de gênero e raça, a Stephanie fez uma lista de obras que considera importantes:
- Mulheres, Raça e Classe – Angela Davis.
- A Revolução das Mulheres. Emancipação Feminina na Rússia Soviética – Várias Autoras
- O Mito da Beleza – Virginia Woolf
- Feminism is for everybody – bell hooks
- Sister outsider – bell hooks
- Mulher, Estado e Revolução – Wendy Goldman
- Feminismo e política: Uma introdução – Flávia Biroli e Luis Felipe Miguel
- Um Teto todo seu – Virginia Woolf
- Black feminist thought – Patricia Hill Collins
Um dos planos da Stephanie é ter um tempo pra cuidar de si mesma, sem culpa: “Meu plano é entender que focar em mim e aceitar meu cansaço não é um problema. Acredito que, como mulher negra, é preciso aprender a cuidar de nós mesmas e entender todas as camadas de violência que estamos expostos, e que agir respeitando nossos limites não nos torna ‘menos fortes’. Para ocupar nossos espaços, precisamos entender a importância da luta coletiva e a importância dela. Não existe emancipação individual.”
Fala a verdade, não tem como não se inspirar com uma mulher como a Stephanie, né? Essa entrevista é uma lição para mostrar que todas nós, mulheres, podemos ocupar espaços e não devemos baixar a cabeça diante de injustiças e do preconceito, porque apenas mostrando que temos voz, iremos conseguir mexer com a estrutura social carregada de machismo e racismo que temos hoje.
Agora, manda pra gente também a história de uma mulher inspiradora que você conhece pra que a gente conte tudo sobre ela por aqui. É só escrever para o [email protected].