Começa o verão, começa o amor. Amor de verão. Acaba o verão, começa o carnaval. Começa o carnaval, acaba o amor. O amor que era do verão. Acaba o amor durante o carnaval, nasce a paixão. Paixão de e pelo carnaval, é o que resta. Apenas paixão. Sensações vividas. Carnes mordidas e apertadas. Bocas doces beijadas. Olhos verdes e castanhos ficarão apenas na lembrança. Na minha vasta lembrança. Senti que isso jamais teria fim, mesmo sabendo que tudo seria praticamente igual, como sempre foi. Engano meu. Grande surpresa. Arrumei as malas. Duas, para ser preciso. Uma levaria na primeira viagem. A segunda, talvez, na segunda viagem. Coloquei objetos pessoais e roupas. Nas costas, ela não pesava nada. Não havia nada naquela mala. Nenhuma bagagem. Nenhum peso. Nada e nem ninguém, ou alguém.
Decidi não levar preocupações, ilusões, contas, cobranças, amores ou paixões. Apenas roupas e objetos pessoais. Nada melhor que levar suas próprias coisas nas costas e esquecer quão pesado é carregar tudo e todos em cima de você. Quanta bagagem a vida tem. Quanta coisa para levar, arrumar, fazer, comprar, pagar, dever. Quanta gente para amar, apaixonar, transar, viver, desapegar. Mas, se importar com o peso dos outros e carregar a carga dos outros não é uma forma de amor? Sim, é claro. Mas, isso não significa que minhas costas devem ficar doendo e sendo maltratadas por bagagens de coisas ou pessoas que não preciso carregar.
Mas, se dedicar a uma pessoa, ajudá-la com seus pesos e excessos, não é uma forma digna de amor? Sim, claro que é. Mas, isso não significa que meu tempo, minha vida, meus desejos, minhas conquistas e ambições serão minadas e ocultadas por conta de uma decisão de ajudar outras pessoas a realizar seus sonhos enquanto os meus descem pela enxurrada no lamaçal da frustração. Mas, um sonho que se sonha só não é só um sonho, e um sonho que se sonha junto é uma realidade? Não! Isso é só uma música. Sonho de verdade, que realmente é uma realidade, é o sonho de conquistar tudo que o coração deseja profundamente e sangra todos os dias por causa disso. Fora isso, são apenas músicas.
Músicas de carnavais passados, ou iguais a este. Músicas dos mesmos lugares. Um lugar especial que julgava impossível chegar e passar tantos dias com as poucas coisas que tínhamos como bagagem. Sobreviveria sem lembranças de águas passadas, mesmo estando em pleno carnaval tropical caliente ao som de mambo e maracatu? Poderia eu sobreviver sem o estado mental voltado para o passado que tanto queria que ficasse junto com ela, mesmo estando descendo a ladeira com a felicidade dos batuques e o beijo doce daquela mulher branca que almeja medicina? Mas, lembrar não significa ir ao passado, procurar nos flashes de memória, as melhores fotografias dos momentos bons que foram vividos por você só, ou junto com outro personagem da sua história? Sim, obviamente que sim. Mas isso não significa que preciso ser um perito em fotografia, para saber como é ruim revelar filmes de câmeras antigas do fundo da minha consciência e ver que o negativo está completamente queimado por algo que nã