Toda mulher já passou por isso: ao voltar pra casa, a pé, no metrô ou no ônibus, você sente que está sendo observada e até mesmo seguida. Acelera o passo, torce para o farol abrir ou alguém perceber seus olhares desesperados no vagão lotado.
Pode ser apenas uma cantada inconveniente, mas sempre existe a chance de ser algo pior. O fato é que, no cotidiano de cidades brasileiras, as mulheres vivem com medo de um ataque – seja um assalto, assédio ou mesmo a possibilidade de um estupro.
Foi esse sentimento que levou a jornalista Babi Souza e a designer Vika Schmitz a criarem o movimento “Vamos Juntas?”, que parte de uma premissa simples: ao andar em grupos, as mulheres se sentem mais protegidas e tornam a abordagem violenta mais difícil de acontecer.
A ideia vem de encontro ao sentimento de insegurança revelado em pesquisa da Agência Énois – Inteligência Jovem, em parceria com os Institutos Vladimir Herzog e Patrícia Galvão. Feita com mais de 2 mil jovens em 370 cidades: a rua é vista como um espaço sem segurança ou respeito, onde 94% delas já foram assediadas verbalmente e 77% fisicamente (de passadas de mão, a encoxadas ou até agressões mais violentas).
A página do movimento já conta com quase 200 mil seguidoras e reúne diversos depoimentos de mulheres que contaram com a ajuda de desconhecidas em momentos de perigo. Essa é a ideia principal da página: “Na próxima vez que estiver em uma situação de risco (noite, lugar pouco movimentado), observe: do seu lado pode estar outra mulher passando pela mesma insegurança. Que tal irem juntas? De quebra você ainda bate um papo e, quem sabe, faz uma amiga!”
A repercussão da ideia superou qualquer expectativa das duas amigas, que já apareceram em diversas reportagens, inclusive como destaque em iniciativas de colaborativismo, empreendedorimo social e foi considerado um dos cinco “movimentos feministas digitais que mais fazem a diferença” segundo a Revista Elle Brasil.
Em entrevista para a Folha de São Paulo, Babi conta que a ideia surgiu “ao descer de um ônibus cheio de mulheres em um ponto conhecido pelos assaltos, observou que todas caminhavam depressa, mas dispersas. Babi reviu muitas delas em outro ponto, onde costuma embarcar no ônibus de uma segunda linha e pensou: por que não vamos juntas?”
A Sororidade na prática
A página está ajudando a popularizar um conceito de nome difícil, mas com ótimos resultados: a sororidade, essa palavrinha complicada que significa a união entre mulheres, baseada principalmente na empatia e na ajuda mútua.
Os depoimentos que a página reúne mostram a força da sororidade na prática. A partir do movimento, mulheres que não se conheciam conseguem se unir pela proteção mútua, seja na rua, no transporte público, no ponto de ônibus.
A partir da página inicial do Vamos Juntas? nasceram também grupos on-line para cada região brasileira, no qual as participantes trocam experiências e combinam encontros para irem juntas.
Babi e Vika têm planos de expandir a ideia com reuniões e agora com o desenvolvimento de um aplicativo para facilitar esses encontros, usando para isso o serviço de GPS dos smartphones e cruzamento de dados do Facebook.
Para viabilizar o projeto elas vão lançar uma campanha de financiamento coletivo pelo Cartase. Enquanto o projeto não está no site, é possível saber mais e contribuir pelo email [email protected].
“É a velha ideia de que a união faz a força e de que, em vez de só reclamar, devemos criar nossas próprias alternativas para deixar o mundo um pouquinho melhor”, afirma Babi Sousa, mostrando que é possível sim mudar algo com atitudes simples como dar apoio à mulher que está do seu lado.
Claro que o mundo ideal seria aquele em que nunca tivéssemos medo de andar sozinhas. Um mundo onde uma cultura mais igualitária e políticas públicas mais competentes funcionassem. Mas enquanto isso não acontece, Vamos Juntas?