Ontem, com a histeria que vi nas mídias sociais sobre a Youtuber Taty Ferreira, do Acidez Feminina, fiquei confusa. A menina não se expressou bem. Mal assessorada e empolgada com a repercussão de um projeto do Youtube que explora o tema da vez: IGUALDADE DE GÊNERO (RAIO EMPODERADOR, ATIVAR!), deu um baita bola fora (Disse que havia sido escolhida como embaixadora da ONU para o tema – o mundo caiu! Gente a favor, gente contra, ONU e Youtube se pronunciando sobre o que era mesmo que a menina estava fazendo lá no tal projeto – o caos!) e provocou em mim uma reflexão muito importante: quem disse que precisamos de títulos para defender uma causa? Não precisamos.
O feminismo e a luta pela igualdade de gênero está aí – e mesmo uma mulher que tenha hábitos machistas queira rever seus valores e adotar a causa com propósito – ela será bem-vinda. Então, independente do título, fique Taty. A luta é de todas nós. Ninguém é dono de causa nenhuma. E se a gente acha que é maior que uma causa que defende, já está começando errado. Recomecemos, por favor. Pelo bem da sororidade, das pessoas que confiam no movimento de empoderamento feminino e equidade.
Causas e coisas. Egos e pequenos poderes.
Tudo isso se mistura quando a gente passa a olhar para nós mesmos e nossas convicções mais intrínsecas, ao invés de olhar para o lado, para o outro. Empoderar e dar voz às mulheres é um movimento e responsabilidade de cada uma de nós. Ninguém precisa de selo para ser um agente de transformação social. Basta querer ser a mudança que a gente busca no mundo. Basta não se preocupar se você está ou não nos holofotes. Basta que seu movimento comece – primeiro com você e depois com cada pessoa à sua volta, até contagiar mais e mais pessoas. Cada uma de nós tem este poder. O feminino tem poder.
Nós somos melhores juntas. Juntas com verdade. Sororidade.
Eu sempre acreditei que poderia fazer algo de melhor para mudar o mundo das pessoas que estavam à minha volta e desde pequena sempre me envolvi em projetos sociais. Dava aulas de teatro para crianças e velhinhos, contava histórias. Ajudava com o que tinha nas mãos e na minha infância e adolescência – se formos pensar em grana e status – eu não tinha nada. Mas ao mesmo tempo, tinha tudo. Tinha disposição em ajudar o outro, nem sabia nada sobre feminismo e empoderamento. Sabia de compaixão, de amor ao próximo e respeito pelas histórias das pessoas. Sempre amei as histórias das pessoas – especialmente das mulheres da minha comunidade e da minha casa e talvez – acho que com certeza – por isso me tornei jornalista. Ser apaixonada por gente me fez acreditar que sim, eu poderia e seria uma agente de transformação aonde quer que eu estivesse e a cada dia, destes meus 37 anos, eu tenho feito isso. Na escolha da carreira, do modelo de negócio, das pessoas que me cercam, das causas que defendo. Meu selo é o meu caráter e a convicção que tenho de que a vida acontece longe das mídias sociais. Longe da bolha em que vivo, da minha timeline.
Existem mulheres precisando de ajuda para aprender tantas coisas, que a gente nem imagina. Mulheres que nem sabem de seus direitos, que talvez, nem tenham acesso aos textões de Facebook. Mulheres reais, anônimas, que estão nos guetos, nos metrôs lotados de gente, na rua em busca de sustento para a família, e nem sequer tem tempo para pensar nelas mesmas.
Existem tantas possibilidades de sermos sal neste mundo insosso e isso não depende de títulos, depende de cada uma de nós. De olharmos para quem senta ao nosso lado no banco do ônibus, de quem nos ajuda na limpeza da casa, das próprias mulheres de nossa família.
São muitas mulheres, milhões delas, precisando mais do que embaixadoras de causas próprias, mas de parceiras para a vida. Quer ser uma mulher que faça a diferença em sua geração? Então faça! Saia de casa disposta em ser sua melhor versão, faça a diferença entre as pessoas que convivem com você e leve sua verdade, cumplicidade e amor a elas. Seja sal, seja luz, num mundo que está cegando as pessoas por meio do egocentrismo e da busca por títulos. Você e eu, não precisamos deles para avançarmos em busca do empoderamento feminino e da igualdade de gênero. Vamos juntas. Lúcidas e certas de quem somos e o que realmente buscamos quando adotamos uma causa.