Toda menina cresce ouvindo e lendo contos de fadas. E claro, estas “inocentes” historinhas deixam impresso em seu subconsciente que quando crescer ela será uma linda e frágil donzela, com uma fila de rapazes fortes e bem-nascidos em frente ao seu castelo, prontos para salvá-la do dragão, da madrasta má, da torre sem portas ou dos ciumentos sete anões.

Quantas lembranças você não tirou do baú empoeirado de sua infância agora, mesmo que você não tenha nada de frágil e desprotegida e nem fique aguardando um príncipe para salvá-la do cheque especial? Atire o primeiro sapatinho de cristal aquele ou aquela que nunca se encantou com as aventuras de uma bela princesa adormecida ou que nunca se indignou com o tratamento reservado à pobre borralheira!

Tudo não passaria de um inocente conto de fadas se parasse por aí, apenas doces lembranças de nossa infância. Mas o real problema é que, por mais que o mundo se transforme e os papéis dentro de uma relação ganhem nuances cada vez mais tênues, muitos de nós nunca nos livramos de nossas princesas e príncipes infantis, tudo que sentimos e pensamos a partir deles está em algum lugar guardado dentro de nós. O eco das fantasias, de uma forma mais ou menos grave, inunda nossa personalidade e às vezes molda o jeito com que vamos conceber o mundo e nos relacionar com os outros.

Quantas Brancas de Neve você não conhece?  Elas cuidam dos homens (sem Branca, como sobreviveriam os anões?) e ao mesmo tempo dependem deles para existirem (sem o príncipe para desengasgá-la, o que seria da Branca?). Elas são tão comuns que até ganharam um apelido do grande Mário Lago: Amélia. Sim, Mário Lago, grande leitor que era, deve ter desconfiado que o nome verdadeiro da Branca era Amélia.

 

 

Mas não podemos deixar de lado a maior de todas as princesas, Cinderela. E quando me interesso por algo vou até o fundo, mais ou menos como diz Adélia Prado: “diante do meu desejo o mar é apenas uma gota”. A história de Cinderela é um dos contos de fada mais populares do mundo, sendo a versão mais antiga originária da China (860 A.C.). Yeh-Shen era uma pobre órfã que no final da história casa-se com o filho do imperador. O conto da Cinderela da forma que conhecemos, na verdade é uma versão da história italiana “A gata borralheira”, que depois foi eternizada por Walt Disney.

Quer me convencer de que nós não herdamos nadinha da Cinderela? Através das suas aparições e fugas do baile, das pistas que deixava como rastro a cada noite (inclusive em uma destas noites deixou para trás uma das maiores paixões feminina: um sapato de grife), a princesa ensinou sucessivas gerações de meninas a fazer o jogo da sedução.

E que mulher não tem uma amiga fada-madrinha, sempre pronta a nos tirar da melancolia e nos fazer renascer das cinzas? (Se preferir pode ser renascer do borralho, que nada mais são que cinzas do fogão de lenha, daí o nome borralheira para nossa heroína.) Sempre prontas para nos transformar em princesas com um bom banho de loja quando estamos deprimidas, estas amigas são nossas fadas. Já a magia, esta depende do limite do nosso cartão de crédito.

Felizmente, algumas princesas modernas, mesmo não se importando se terão ou não um final “felizes para sempre”, não ficam chorando ao lado da lareira ou do celular. Elas vão à luta, conquistam seu espaço no mercado de trabalho, pagam suas contas e até ligam no dia seguinte para saber se o príncipe chegou bem em casa e não virou abóbora no meio do caminho.

E mais felizmente ainda, alguns príncipes despertam do feitiço e buscam “donzelas” doces, porém decididas. Mesmo sabendo que às vezes terão de salvá-las de algumas crises existenciais ou consertar a torneira da pia que não pára de pingar, eles também sabem que quando estiverem tendo um dia de sapo, ela estará lá, linda, empoderada e forte, com um beijo encantado para salvá-lo!

 

 

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