Denise Pavarina é executiva do banco Bradesco, onde trabalha há 33 anos. Ela começou na empresa como analista, e cheia de planos, foi ocupando espaços e crescendo na empresa. Foi superintendente, chefiou a área de fusões, passou pelo banco de investimentos até chegar, entre outros cargos à diretoria executiva.

Denise é a única mulher em um cargo de alto escalão na empresa, onde comanda um time de 300 pessoas e tem sob sua gestão cerca de R$ 238 bilhões. Ela diz que, apesar de ter conquistado espaços, sabe que muitas mulheres acabam desistindo no meio do caminho por medo de críticas, por não terem igualdade de oportunidades ou por receio de não serem ouvidas por homens.

Ela conta sobre uma situação que passou, onde estava em uma reunião que estava em um momento bastante tenso com uma tentativa de chegarem a um acordo. Nesta época, Denise chefiava a área de fusões e aquisições do Bradesco. Ela percebeu o climão e sabia que era o momento de fazer algo para deixar o ambiente mais leve, foi aí que teve uma ideia: abriu a bolsa, pegou várias balas e jogou na mesa. Os executivos estranharam e se entreolharam, provavelmente pensando o que aquelas balas resolveriam no meio de uma situão importante. “Foi então que um pegou uma bala, o outro também, quando vimos estava todo mundo mais calmo e prosseguimos. Conseguimos, assim, fechar o acordo”, mostrando como algo simples pode fazer uma grande diferença no mundo dos negócios.

Ela diz que as mulheres têm habilidades de negociação e uma forma mais pacífica e ponderada para lidar com desafios e momentos de tensão no mundo corporativo e que isso é um ponto muito positivo para elas. “Sempre esquecemos da nossa imensa capacidade de negociação. É uma habilidade que praticamos sempre. Quem nunca teve que negociar com o pai? Com a mãe, o irmão, o namorado?”, diz.

Denise ainda fala sobre mulheres na liderança e o quanto vê a mudança que está acontecendo no mercado hoje: “O Bradesco atualmente é um banco que tem mais mulheres na liderança. Quando eu entrei, praticamente não tinha nenhuma. Hoje, tenho duas colegas na diretoria executiva e há uma conselheira mulher. As mulheres são 55% dos funcionários do banco, muitas em posição de gerência ou de superintendência. E serão elas que formarão a sucessão. O banco, assim como a sociedade brasileira, evoluiu nesse sentido. Mas hoje nós temos muito mais mulheres preparadas do que tínhamos no passado e nos coloca na linha de observação dos gestores. O que nós precisamos, na verdade, é ter igualdade de acesso às oportunidades. Nos bancos, de forma geral, temos isso multiplicado. Porque há, de fato, muitas mulheres trabalhando com relacionamento. Banco é relacionamento. O Bradesco evoluiu, e esse ano, no dia 7 de março, assinamos o pacto de empoderamento das mulheres com a ONU.

 

O que nós precisamos, na verdade, é ter igualdade de acesso às oportunidades.

 

A executiva está muito feliz em ter alcançado o sucesso profissional que tem hoje, mas diz que não foi fácil chegar: “Quando era jovem e estava competindo pelos primeiros cargos, os homens eram muito menos cuidadosos. Teve uma situação em que estava tendo aula de matemática financeira com outros colegas e a gente usava HP. O professor deu um problema, resolvi, entreguei, falei o resultado. Eles ignoraram, continuaram buscando a solução e responderam como se eu não tivesse respondido antes. Na hora eu até falei: “isso não é questão de inteligência, é só pontaria, é só apertar o botão”. Houve um movimento de ignorar. Depois, em determinado momento, quando tive oportunidade de trabalhar fora do país e meu chefe anunciou: “quem falar inglês bem, vai”. Eu respondi: “É só isso mesmo que precisa?”. Ele fez uma cara para mim, como se aquela vaga não pudesse ser para mim. Eu fui lá correndo estudar o idioma. As coisas mudaram, acabei não indo, mas o inglês eu aprendi. Acho que hoje essas coisas mudaram, não há o boicote à carreira. Há um preconceito mais sutil na sociedade em geral – que se manifesta na hora que você fala e na atenção (ou não) que recebe; um cara fala algo que você tinha acabado de falar ou não acredita que você possa participar de uma reunião de forma ativa (quando falam e não olham para você). Ninguém afronta ninguém hoje, não falam declaradamente. Mas há pequenas coisas, sutis, coisas que ainda não saíram totalmente do imaginário.”

 

 

Para as mulheres que desejam ter sucesso na carreira e ocupar cada vez mais espaços nos cargos de liderança das empresas, Denise dá algumas dicas para que toda mulher lute para que isso aconteça: “O que percebo é que quando um homem vê que merece uma posição, ele vai e fala pro seu chefe, diz que quer e deve estar ali. As mulheres não podem ficar esperando ser reconhecidas. Precisam ir atrás, nós precisamos falar para perceberem. Além disso, percebo que muitas mulheres não fazem networking. Precisamos sim, cultivar uma rede que vai nos garantir vagas de emprego, contatos posteriores, ajudar na carreira. Os homens fazem muito isso, vão jogar bola depois do trabalho. Nós não vamos. Mas é importante, sim mantermos um bom relacionamento com uma boa rede de contatos.”

Não tem como falar em ocupar espaços de liderança sem citar que saber ser uma boa gestora é uma das chaves para o sucesso. Seu, da equipe e da empresa como um todo: “Ser um bom gestor, além da competência, é ter olhar. Um olhar que entende as implicações, as consequências de fazer um movimento. Se você ficar atuando somente em uma determinada área, você não se habilitará para posições de liderança. Você precisa ter essa passagem, para ser uma profissional mais completa. Se você tiver uma gestão que tem esse olhar, ela é capaz de mudar a sua história, a sua carreira. O gestor é fundamental. Se você não tem um bom gestor, não tem perspectiva de mudar, você é que tem que mudar. Ou muda dentro da empresa – o banco era muito grande, eu percorri várias áreas – ou muda de empresa. Não corra o risco de atrasar a sua carreira.”

O plano de Denise é algo simples, mas que às vezes muita gente esquece. Ter os pés no chão. Ela diz que é importante se lembrar sempre de onde veio e não achar que o sucesso é algo que dura pra sempre ou estagnar porque já conquistou o que queria. “É temporário. Estou nessa posição porque as pessoas me deram isso. Nunca esqueço. Sei que tenho e que posso perder”.

Esta é uma verdade poderosa! não podemos nos esquecer nunca de onde viemos e manter os pés no chão pra continuar conquistando espaços e aprimorando os conhecimentos sempre! Se você também tem uma história inspiradora pra contar, manda pra gente no elatemumplano@planofeminino.com.br. Vamos adorar contar sua história por aqui!

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