* Este artigo contém grandes spoilers de One Day at a Time

 

A notícia triste de que a série One Day At a Time foi cancelada, foi publicada pela Netflix via Twitter, enquanto o elenco tentava bravamente encontrar alguma outra emissora que possa salvar a comédia, como aconteceu com Brooklyn Nine-Nine, que foi comprada pela NBC depois que a Fox encerrou as gravações sem dar um final à história. Embora eu queira muito que a família Alvarez volte à cena com piadas inteligentes e debates de muitos temas importantes, não consigo ver o mesmo valor comercial de B99 para que esse resgate aconteça.

 

Então, acabei guardando o fim da terceira temporada de One Day At a Time com carinho e isso foi fácil, pois o roteiro do episódio tem todo o jeitão de series finale mesmo – que é quando uma série se encerra com planejamento, tendo um episódio feito para a despedida, e não no meio do curso da história.

 

Claro que o cliff hanger estava ali: “meu deus será que a Abuelita (Rita Moreno) vai voltar de Cuba ou está de mudança?”. Mas lá estava Alex (Marcel Ruiz) mostrando seu crescimento e desapego da masculinidade tóxica que a sociedade estava ensinando; Elena (Isabella Gomez) feliz com Syd (Sheridan Pierce) e finalmente ajustando as coisas com seu pai; Schneider (Todd Grinnell) mostrando que é possível se recuperar de momentos de depressão e recaídas de um vício, por mais terríveis que possam ser e Penelope (Justina Machado)… Bom, talvez a história de Penélope é a que tenha ganhado de fato um final digno.

 

O casamento do seu ex-marido Victor (James Martinez) faz com que ela reflita sobre sua vida, sua família e suas escolhas amorosas. Sobre como o divórcio, a separação do arrebatador Max, das primeiras temporadas e do namorado mais recente, Mateo. Sua reflexão é acompanhada da visão do falecido pai, Berto, que resgata a participação especial de Tony Plata.

 

Na imaginação de Lupe, o pai tenta entender como ela encontrará a felicidade se ainda não encontrou o homem de sua vida. De início, ela se envolve em toda aquela reflexão, talvez pelo clima do casamento ou mesmo pela presença de Max, convidado por Lydia. Até que ela finalmente percebe: “eu realmente fico bem de branco”. Eis que o ”branco” ao qual Penelope se referia era o jaleco de enfermagem, que ela finalmente conseguiu depois de muito esforço. Depois de, inclusive, colocar os estudos como prioridade, ao invés de relacionamentos.

 

 

Entre fulano e ciclano, escolho ela

A partir desse ponto no artigo, vou falar sobre a minha paixão por Crepúsculo na adolescência e início da vida adulta. E se você acha que eu tenho vergonha disso, está muito enganada 😉

 

Sim, eu tinha um favorito. O Edward Cullen (Robert Pattinson). Que, bem depois, com muita maturidade, além de conversas sobre feminismo e relacionamentos abusivos, fui entender que na verdade não era nada romântico, mas sim super bizarro e stalker da Bella Swan (Kristen Stewart). O Jacob (Taylor Lautner) não sai ileso de críticas. Insistente, pedante e só era legal com a Bella porque achava que tinha chances com ela. Seria bem daqueles que reclamam de friendzone.

 

Mas apesar de eu ter sido muito enganada sobre a romantização de relacionamentos abusivos presente na trilogia, eu não tinha um “team”. Lembra que, na época, a coisa do #TeamEdward e #TeamJacob estava por toda a internet? Pois é. Por mais que eu amasse o Edward (para mim), eu não queria que ele ficasse com a Bella, achava um absurdo ela ter que virar vampira, fazer uma mudança tão grande, para poder “acompanhar” a vida do boy.

 

Eu queria mesmo era que a Bella fosse pra faculdade, conhecesse o mundo além de Forks, aprendesse a se divertir, sei lá… E isso não significava que ela não poderia estar com o cara que ama – bom, em Crepúsculo meio que significava, já que Edward era imortal e ela eventualmente morreria, mas você pegou a ideia, né?

 

Lembro até que na época de Amanhecer – Parte 2, eu pintei uma camiseta – sempre fui meio artística – que dizia #TeamBella e tinha o desenho de um cordeiro, uma referência àquele diálogo sobre o leão se apaixonou pela ovelha (como eu não havia me tocado do quão problemático aquele relacionamento era?).

 

Vídeo a partir do trecho para entenderem a referência:

 

Depois disso, foi fácil decidir qual era o meu #Team na minha obsessão romântica seguinte: Gilmore Girls. Já que o retorno da série para a Netflix – Gilmore Girls: um ano pra recordar – prometeu mostrar o final que a autora Amy Sherman-Palladino tanto queria ter feito, mas não pode por causa do cancelamento da série nos anos 2000, o público imediatamente supôs que Rory Gilmore (Alexis Bledel) finalmente escolheria o seu par romântico entre Dean (Jared Padalecki); Jess (Milo Ventimiglia) ou Logan (Matt Czuchry).

 

Eu até poderia estar inclinada a ser #TeamLogan, até descobrir que Rory acaba virando sua amante, enquanto ele engana uma noiva. Mas a suposição como um todo já não fazia o menor sentido para mim, já que esta á uma série que já começa mostrando uma família feliz entre Rory e Lorelai (Lauren Graham), que é uma excelente mãe-solo.

 

Claro que Lorelai encontra o amor de sua vida, mas isso demora e, quando acontece, não muda o foco da personagem: a felicidade da filha Rory. E o que eu sentia da expectativa do público era que o interesse na carreira de escritora ou jornalista de Rory era zero – tanto que isso realmente esteve em segundo lugar no retorno da série.

 

No fim das contas, as últimas quatro palavras tão esperadas foram ditas. Rory estava grávida e teria um começo de maternidade similar o de Lorelai, finalmente fazendo com que a garota entendesse muitas escolhas da mãe. E nada implicava de que aquele poderia ter um fim triste por ela não estar comprometida até o último momento da série.

 

O final de Gilmore Girls também me fez refletir sobre o final de Friends. Em uma última temporada enrolada, Joey (Matt LeBlanc) e Rachel (Jennifer Aniston) acabam não se tornando oficialmente um casal, pois a amizade virou um obstáculo para o romance. Mas a verdade é que todo mundo sabia que os escritores já haviam decidido que o destino de Rachel seria com Ross (David Schwimmer), algo que incomoda os fãs da série até hoje.

 

Mesmo que o romance de Ross e Rachel tenha sido desenvolvido desde a primeira temporada, ainda não é o suficiente para que o super machista e ciumento Ross seja “merecedor” de Rachel. Mas será que Joey também seria?

 

Bom, tem até thread no Twitter justificando o casal e supondo que se os escritores da série tivessem pensado em Joey e Rachel desde o começo, meio que em um triângulo amoroso com Ross, os dois ficando juntos no final não seria tão estranho para os espectadores.

 

Mas de novo eu preciso perguntar: por que Rachel teria que ficar com um ou com outro? Ela cresceu sozinha, virou uma excelente mãe e uma grande empresária da moda – algo que, considerando a maneira com que o Ross diminuía seu trabalho, ela talvez não teria conseguido se tivesse ficado com ele.

 

Por isso aquela cena em que ela desiste da oportunidade em Paris por amor, independente um homem (independente de que homem, mas sendo o Ross, foi pior) simplesmente não bate com o desenvolvimento do personagem de Jen.

 

Assim como também não faria sentido encerrar One Day at a Time com Penelope pensando nos homens de sua vida enquanto seus filhos estavam crescendo e ela tinha algo tão importante quanto sua carreira em vista.

 

Não quero dizer que as mulheres devem abrir mão do amor por um trabalho. Conhecendo a personagem de Justina, isso até seria pauta na série. O que quero dizer é que as narrativas das mulheres podem ser muito mais do que a busca pelo homem ideal, mais ainda do que a dúvida entre qual é o melhor partido para um final feliz, como Rachel teve que escolher Ross.

 

Assim como na vida real, não precisamos de um homem para estarmos completas e é isso que o final de One Day At a Time, do jeito que está até o momento, é tão importante.

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