Há alguns dias, prestes a comemoração do Dia das Mulheres, as questões do assédio e da desigualdade de gênero no ambiente de trabalho roubaram a cena no setor audiovisual. A emblemática foto de mulheres de preto sobre o aclamado tapete vermelho do Globo de Ouro rodou o mundo. No Bafta 2018 (considerado o Oscar britânico), realizado em 18 de fevereiro, veio a público uma carta aberta assinada por um grupo de 190 atrizes do Reino Unido, incluindo Emma Watson, Gemma Arterton, Keira Knightley, Emma Thompson, Naomie Harris, Jodie Whittaker, Carey Mulligan, Kate Winslet, Claire Foy.

A campanha foi desenvolvida pela Time’s Up, entidade recém-criada por mulheres que trabalham na indústria cinematográfica, com o endosso de mulheres como a roteirista Shonda Rhimes e as atrizes Meryl Streep e Reese Witherspoon. O movimento surgiu diante da leva de denúncias que continuam a atingir alguns dos homens mais poderosos de Hollywood.

As desigualdades também estão nos números. De acordo com o estudo publicado pela San Diego State University, as mulheres representaram apenas 11% de todos os diretores dos 250 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos em 2017. O índice é apenas 1% maior do que o registrado em 2016 e não representa mudança significativa na série histórica. As mulheres estão mais presentes, ainda assim com pouca participação, no cargo de produtoras (25%), produtoras executivas (19%), editoras (16%), roteiristas (11%), diretoras (11%) e diretoras de fotografia (4%). Em filmes dirigidos exclusivamente por homens, a proporção é ainda mais desigual. As roteiristas mulheres, por exemplo, somam 8% nestes casos, contra 68% nos que têm ao menos uma diretora. A mesma lógica se aplica aos editores (14% e 32%), diretores de fotografia (3% e 15%) e compositoras (2% e 12%).

 

 

No Brasil, o Ministério da Cultura (MinC) anunciou o primeiro conjunto de editais do programa #AudiovisualGeraFuturo, que tem entre seus objetivos “ampliar a participação no mercado de novos talentos e de realizadores negros, mulheres e indígenas”.

As cotas de gênero e raça foram adotadas após divulgação do estudo feito pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) com base nos 142 longas-metragens brasileiros lançados nas salas do País em 2016. Segundo o estudo, apenas 19,7% desse montante foram dirigidos por mulheres brancas. Na questão racial, o cenário segue profundamente desigual: homens negros assumiram 2,1% da produção executiva enquanto mulheres negras não assinaram nenhuma produção sozinhas, participando apenas de equipes mistas. Nas obras incentivadas com recursos federais, apenas 21% tinham mulheres na direção e 28%, no roteiro.
Na busca por conhecimento e formação, no entanto, o quadro é diferente. Na escola de roteiros Roteiraria, as salas de aula tem o público quase que dividido, com predominância do público feminino: 50,3% dos alunos são mulheres e 49,7% são homens.

Duas organizações internacionais levam essa bandeira adiante: a She Says (“Ela Fala”, da Inglaterra) e The 3% Conference (“A Conferência dos 3%”, dos Estados Unidos – nome dado devido a somente 3% dos diretores de criação das agências de publicidade americanas serem mulheres)
No mercado publicitário, a discrepância também é evidente. Segundo pesquisa do Meio & Mensagem de 2017 as mulheres somam apenas 20% dos profissionais de criação nas agências.

Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher e com tantos movimentos que ainda se fazem necessários em relação a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, a luta contra o assédio, igualdade de gêneros, vemos que a nossa luta não deve parar tão cedo. Vamos nos unir cada vez mais pra mostrar que como mulheres, precisamos e vamos conquistar os espaços que são nossos por direito. Seja onde for.

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