A partir do dia 1º de outubro, o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) contará com Rilma Hemetério, a primeira mulher negra a presidir o maior tribunal do país, o tribunal da 2ª Região, que engloba a capital paulista, Guarulhos, Osasco, região do ABC e a Baixada Santista.
A desembargadora Rilma Aparecida Hemetério foi eleita em um momento em que a reforma trabalhista promete trazer grandes mudanças no mercado de trabalho.
Para a futura presidente do TRT-2, as regras precisam ser observadas. Além disso, ela diz que há aspectos da reforma que afrontam a Constituição, como alguns que tratam dos direitos sociais se referem basicamente ao direito dos trabalhadores.
A opinião da Presidente do TRT vai de encontro com a da juíza titular da 20ª. Vara do Trabalho da Zona Sul de São Paulo, Mylene Ramos, que em entrevista para o Plano Feminino afirmou: “já observamos um aumento no trabalho informal e redução de salários. A médio e longo prazo o resultado pode ser um maior empobrecimento dos assalariados e piora na distribuição de renda e no consumo.”
Rilma tem 65 anos, é filha de uma dona de casa e um artesão proprietário de uma pequena sapataria em Caxambu, no sul de Minas Gerais, e veio pela primeira vez a São Paulo em 1967.
Quando passou em frente à Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no largo São Francisco, disse à mãe que estudaria lá. “Você tem mania de grandeza”, a mãe disse à Rilma.
Na época em que prestaria vestibular, Rilma ficou entre escolher a inscrição e uma viagem com as amigas de formatura do normal, que era um curso de formação para dar aulas no ensino básico da época.
Foi aí que Rilma pediu à freira que devolvesse o dinheiro da formatura, pegou o ônibus rumo a São Paulo e, como ela havia dito à mãe anos antes, entrou na USP em 1971.
Por um tempo Rilma morou com um tio, em Osasco, foi bancária e estagiária da Prefeitura de São Paulo e de um escritório de advocacia e atendente judiciária, que a aproximou de sua grande paixão, a Justiça do Trabalho.
O pai não tinha terminado nem o ensino fundamental, mas dizia sempre que a educação era o melhor caminho para progredir e Rilma sempre guardou com ela essas palavras:
“Doente, ele fez minha mãe prometer que jamais deixaria a mim e meus dois irmãos sem estudo”.
Infelizmente, seu pai faleceu em 1966, sem ter a chance de ver a promessa de Rilma se cumprir. Sem vê-la conquistando espaços.
Seu avô sempre foi um grande exemplo pra ela e foi com ele que Rilma aprendeu a lidar com o preconceito. Quando entrou na USP, pessoas da sua cidade, Caxambu, perguntavam a conhecidos em tom de ironia: “Ela entrou pela porta da frente e saiu pela de trás?”.
“Para eles, era uma afronta que a filha do sapateiro, a neta do negro gago, tivesse entrado na universidade”, diz Rilma.
Rilma foi promotora em Minas Gerais por um pouco mais de um ano, até abrir o concurso para magistratura do Trabalho em São Paulo.
“Aprendi comigo mesma que você é quem diz o que você é. Tudo o que fiz, fiz uma única vez: vestibular, concurso para o Ministério Público e para a Justiça do Trabalho. Embora isso possa parecer arrogância, não é. Se você quer alguma coisa, tem de focar.”
Que possamos ver cada vez mais mulheres ocupando espaços importantes. Rilma é um exemplo de persistência e mostra que o preconceito de ninguém deve pautar quem você é ou aonde pode chegar.
Siga os seus instintos e persista naquilo que você quer. Nada pode te parar. Nada além de você mesma. Vá em frente e conquiste o mundo!