No final de fevereiro a ideia de dois criativos da DDB de Sydney para um briefing de Cannes Young Glory – prêmio que revela jovens talentos – sacudiu o mercado. A diretora de arte Effie Kacopieros e o redator Cristian Tough propuseram a criação de uma nova categoria no festival, o Cannes Lioness.
A ideia era premiar campanhas que, de alguma forma, ajudassem a mudar a cultura de objetificação das mulheres como forma de vender coisas. E o prêmio, o primeiro troféu do festival de criatividade de Cannes com uma Leoa.
O barulho em volta da ideia foi grande e todos acreditavam que o prêmio se tornaria real. Mas parece que Cannes não está preparado para ter um troféu feminino. No lugar do Cannes Lioness, foi criado o Glass Lihon – The lion for change, que, segundo a descrição do próprio festival “reconhecerá trabalhos que implícita ou explicitamente abordaram temas de desigualdade entre os sexos ou preconceito, por meio da representação consciente de gêneros em propaganda”.
Criado por Cindy Gallop, publicitária, consultora, ativista e crítica da falta de representação feminina em Cannes, em parceria com Sheryl Sandberg, COO do Facebook e fundadora do LeanIn.Org, o Glass Lions será voltado para campanhas que “estilhaçam” os esteriótipos de gênero.
Essa categoria segue uma linha de iniciativas pró-igualdade de gênero em Cannes, iniciada em 2014 com a primeira edição do See it, Be it. A pouca presença feminina em posições de destaque nas edições anteriores e o reconhecimento da responsabilidade da propaganda na questão fez com que Cannes se voltasse para isso em 2015.
Telhado de vidro: por que não aceitaram o Cannes Lioness?
Mas, talvez a mudança do tão aguardado Cannes Lioness para Glass Lions tenha mesmo um bom motivo: até 2012, Cannes Lioness era uma premiação informal no Instagram e no Facebook do festival, que elegia as “beldades” que desfilavam pela cidade durante o evento em uma votação popular.
Parece que o festival Cannes Lions tem mesmo um telhado de vidro e, nesse caso, o Glass Lion faz ainda mais sentido. Sobre ele, Sandberg conta que “você não pode ser o que não vê e a maneira como mostramos as mulheres é importante. Mostrar igualdade de gêneros ajuda a criar um mundo mais igualitário.
Para fazer dessa categoria uma iniciativa ainda mais representativa, o valor das inscrições será doado para um programa (não especificado) de estímulo a um ambiente de mídia mais neutro em termos de gênero, sem esteriótipos
A igualdade de gêneros é um assunto quente para a indústria no momento. O Clio Awards mudou suas regras para garantir que o juri seja 50% feminino. Mas ao falar do videocase Cannes Lioness da DDB Sydney, Senta Slingerland diz que foi apenas uma “feliz coincidência”.
Esperemos que felizes mesmo sejam os resultados também e torcemos para que uma dessas campanhas seja a vencedora no dia 23 de junho, na entrega do primeiro Glass Lion.